«1. "Tivemos um magnífico verão e encontro-me muitas vezes no pomar de Lotte, empoleirado nas árvores, com a longa vara de colher fruta na mão, para despojar das suas peras os ramos da copa. Ela, em baixo, recebe-as à medida que as vou dando." Werther conta, fala no presente, mas o seu quadro tem já vocação de passado; em voz baixa, o imperfeito murmura atrás desse presente. Um dia, recordar-me-ei da cena, perder-me-ei no passado. O quadro apaixonado, à semelhança da primeira sedução, é feito a posteriori: é a anamnésia que apenas encontra rastos insignificantes, nada dramáticos, como se eu me recordasse do próprio tempo e apenas do tempo: é um perfume sem suporte, um grão de memória, uma simples fragrância; qualquer coisa semelhante a um puro desperdício, como só o haïku japonês foi capaz de o dizer, sem a integrar em destino algum.»
idem

