2007/12/22

"Ela, que me encostara o revólver à fonte, olhava-me, fixamente, nos olhos."

«O passado sinistro e a reputação da minha honra para sempre maculada continuavam, no entanto, a ser a minha tortura de todas as horas, de todos os minutos. Foi por esta altura que me casei. Se o fiz ou não por acaso, ignoro-o. Mas, ao trazê-la para minha casa, julgava-a uma amiga, tão grande era o meu desejo de ter alguém amigo junto de mim. Estava certo, porém, de que seria preciso preparar essa amiga, trabalhá-la, vencê-la, para assim dizer. Como explicar as coisas todas duma vez a esta rapariga de dezasseis anos, cheia de ideias preconcebidas? (...) Mas a catástrofe pôs tudo no seu lugar. Suportando o contacto do revólver, vinguei-me de todo o meu sinistro passado. Embora ninguém mais o soubesse, ela sabia-o, ela, e isso era o bastante, pois ela era tudo para mim, toda a esperança do meu futuro, tal como eu o via em sonhos


Dostoievski - in Está Morta!, Sonho de Orgulho.