2007/12/21

Fosse o que fosse

«Esta pérola, esta tímida Krotkaia, era uma tirana, a intolerável tirana da minha alma; era o meu carrasco! Sim, mentia, se o não dissesse! Julgam talvez que a não amava? Quem há aí capaz de dizer tal coisa? Vêem: é uma ironia, é uma triste ironia do destino e da natureza! Estamos amaldiçoados, a vida dos homens, em geral, é uma maldição (e a minha, em particular). Compreendo agora que me enganei num ponto! Houve qualquer coisa que não correu como era preciso. Era tudo tão claro, o meu plano era puro como o dia. "É severo, é orgulhoso, despreza as consolações que os outros lhe dão, sofre em silêncio!" Era verdade, não menti, não minto, juro...! Ela própria verá depois que eu era assim por nobreza de alma e que ela não dera por isso - quando o adivinhar, por fim, apreciar-me-á dez vezes mais e cairá por terra, de mãos erguidas. Era esse o meu plano. Mas esqueci-me de qualquer coisa, perdi qualquer coisa de vista. Houve ali fosse o que fosse que eu não soube fazer.»


Dostoievski - in Está Morta!, Planos e mais planos.