2007/12/26

Sobre a Sensatez

«Carta VIII
26 de Maio.
(...) Oh! Meus caros amigos! Porque será que o rio do génio transborda tão raras vezes? Porque também tão raras vezes se ergue em ondas impetuosas para lhes abalar as almas timoratas? É porque nas suas duas margens foram instalar-se os homens sensatos e moderados, cujas casinhas, hortas e canteiros de túlipas poderiam ser inundados e portanto, evitam o perigo opondo diques à torrente e cavando canais para desviarem o curso.»

«Carta XXXI
12 de Agosto
«(...)
- Isso é bem diferente! - retorquiu Alberto. - Um homem arrastado por uma paixão violenta perde a faculdade da reflexão e deve ser considerado como um louco ou como um ébrio.
- Eis o que são os homens sensatos! - exclamei eu, sorrindo. - Paixão, embriaguês, loucura! Oh! gente morigerada e de sã moral! Censurais sem piedade o ébrio, afastai-vos horrorizados do louco e seguis o vosso caminho, como o sacerdote, ou agradeceis a Deus, como o fariseu, porque Ele vos não fez semelhante a um desses! Tenho-me embriagado por mais de uma vez e as minhas paixões têm atingido a loucura; mas não me lamento por isso, porque compreendi que todo o homem extraordinário que pratique qualquer acção notável ou aparentemente impossível é logo repelido pela multidão e proclamado como ébrio ou como louco. Mas também na vida comum não é menos insuportável, quando alguém realiza uma empresa arrojada e generosa, ouvir em seguida dizer: "Este homem ou está bêbado, ou é doido!" Envergonha-vos, ó vós que não sois doidos nem bêbados!»


Goethe - in Werther