2007/12/18

Toda a gente sabe quanto é agradável não ter dúvidas!

«Lembro-me como se fosse hoje, não esqueci nada! Assim que ela saíu, decidi-me de repente. Nesse mesmo dia dirigi-me às informações e soube dela tudo quanto queria saber, todos os desvãos da sua história presente; os desvãos da sua história passada já eu os conhecia pela Lukéria, criada em casa dela e a quem eu tinha sondado dias antes. Que coisas horríveis! Não compreendo como uma pessoa se possa rir, como ela se rira ainda na véspera, como se possa ter interesse pelas palavras de Mefistófles, quando se vive esmagada por tais horrores! Mas quê - sempre a mocidade! E o certo é que eu pensava nela então com orgulho e alegria, porque havia na sua atitude indícios de uma certa grandeza de alma. Mesmo à beira do abismo, resplandece a grande frase de Goethe. A mocidade até nos seus próprios erros é mais ou menos generosa. Em verdade é dela que eu falo e só dela. E, o que é mais extraordinário, é que eu já estava a falar dela como se fosse minha e como se eu não duvidasse já do meu poder. Toda a gente sabe quanto é agradável não ter dúvidas!»


Dostoievski - in Está Morta!, Quem era ele e quem era ela.