2008/01/14

Manifesto

«(...) Günter Andres chamou a Keuner um testa de ferro do poeta, que fazia o papel do "moralmente incondicional" - exactamente como o "amoralista: pois ele era ao fim e ao cabo um filósofo e isso significa: não era um dogmático, mas antes um esperimentador" (...), pág. 122

«(...) Nas "histórias do senhor K.", a pasta de Zurique só recentemente vinda à luz, encontra-se uma tira de papel com a mensagem "a verdade a minha casa e o meu carro!" (...)», pág. 115

«Casa, carro, lago, público: a palavra verdade, que só aparece mencionada nesta trascrição, é sinal de que aqui não se joga o trunfo do abastado. Não fora de "a minha" mas de "a" verdade que os nazis tinham querido apropriar-se. Para lhes arrancar das mãos "a" verdade - esclarecia Brecht em Cinco dificuldades ao escrever a verdade (Fünf Schwierigkeiten beim Schreiben der Wahrheit) - exigia-se coragem para escrever a verdade, esperteza para a reconhecer, arte para a tornar manejável como arma, clarividência para escolher aqueles em cujas mãos ela se torne eficaz, astúcia para a espanhar entre eles. A carta cifrada transmite uma chamada para a luta, que ia buscar força à experiência de perda.», pág. 116

«(...) Numa cena, que também aparece na pasta "histórias do senhor K", Keuner lê em voz alta aos camaradas a partir do Manifesto Comunista. Keuner combate o anarquismo, o radicalismo e o oportunismo, diz-se - isso torna-o comparável a Lenin. Um "Discurso do Keuner sobre a literarização (a cozer as calças)" trai a esperança num efeito imediato: "Vocês têm de ler livros, então virá a revolução!" Também isto remete para o revolucionário russo: Lenine acreditava, contava Brecht nunca conserva à volta de 1930, que "pelo simples facto de algumas pessoas andarem por aí com uns folhetos nos bolsos do casaco sobre uma coisa qualquer, descontos salariais numa fábrica de Moscovo, iria desencadear-se uma revolução mundial". Istoi é, comentava Brecht, uma fé na literatura que, a não ser aqui, só aparece em livros sagrados. (...), pág. 120.


Histórias do senhor Keuner, Posfácio - Erdmut Wizisla