2008/01/10

«O animal preferido do senhor K.

Quando perguntaram ao senhor K qual era o animal que ele mais apreciava de todos, ele apontou o elefante e deu como justificação o seguinte: o elefante alia a astúcia à força. Não é a astúcia corriqueira, que dá para fugir à perseguição ou para abichar qualquer coisa de comer, de maneira a não dar nas vistas, mas aquela astúcia que para grandes empreendimentos tem a força à disposição. Por onde tenha andado é um animal que deixa um rasto bem largo. É jovial apesar de tudo, sabe apreciar uma brincadeira. É um amigo a sério, da mesma maneira que é um inimigo a sério. Muito grande e pesado, é contudo também rapidíssimo. A tromba dele leva a um corpanzil enorme mesmo os alimentos mais pequenos, mesmo nozes. As orelhas são móveis: ouve somente o que lhe dá jeito. Chega também a muito velho. É sociável, também, e não é só com elefantes. Por toda a parte é amado na mesma proporção em que é temido. Um certo lado cómico faz até com que chegue a ser adorado. Tem uma pele dura, partem-se nela as facas; mas tem um coração delicado. É capaz de ficar triste. É capaz de ficar furioso. Gosta de dançar. Morre no mais profundo da mata. Gosta de crianças e de outros animais pequenos. É cinzento e só dá nas vistas pelo tamanho. Não é de comer. É capaz de trabalhar a sério. Gosta de beber e fica contente. Faz uma coisa pela arte: dá marfim. »


Bertolt Brecht - in Histórias do senhor Keuner