2008/02/13

1984 (hoje, bisado)

Corria o ano de 1984. Podia começar assim o relato das minhas empresas (ainda proto) profissionais.


We all stand together
Paul McCartney


Win Or Lose, Sink Or Swim
One Thing Is Certain We'll Never Give In
Side By Side, Hand In Hand
We All Stand Together
Play The Game, Fight The Fight
But What's The Point On A Beautiful Night?
Arm In Arm, Hand In Hand
We All Stand Together

La-
Keeping Us Warm In The Night
La La La La
Walk In The Night
You'll Get It Right

Win Or Lose, Sink Or Swim
One Thing Is Certain We'll Never Give In
Side By Side, Hand In Hand
We All Stand Together


Aconteceu assim: o que me apetecia, mesmo, era falar - escrever, seja. Mas sempre que sinto esta pulsão para falar, a minha produção intelectual é inversamente proporcional ao ímpeto que a antecede. A única explicação que encontro para que assim seja é que, eu, que na minha relação com o próximo assimilo e exteriorizo a mais obediente complacência com as regras vigentes, ainda que hetero-determinadas; padeço, na relação comigo própria, de uma certa "sociopatia interna", como se a cada impulso se opusesse uma estado de espírito hostil. Mas, começando pelo princípio, faltava-me, então, uma ideia. Um objecto. E, no entanto, a única coisa que me assomou ao pensamento, não foi uma ideia, mas uma memória - a memória do dia do meu primeiro espectáculo! E que solene que isto soa, agora que está escrito. Com justeza, não será para menos.

Corria o ano de 1984 (aproveito a deixa). Sei-o bem, porque tão elaborada criação livre, inspirada no mais independente movimento avant-garde, foi buscar acompanhamento canoro no We all stand together, do McCartney. Tempos idos, quando a idade da protagonista se revelava pelo uso altivo e orgulhoso de... um único dígito. Na altura, confesso, a produção musical não caiu no domínio das minhas incumbências. Tivera sido assim, e, com certeza, o único artista internacional em condições de compactar tão exímios atributos, e assim, de cumprir excelsíssimos pré-requisitos, seria, se bem me lembro, o George Michael - naturalmente, em função de uma sonoridade metafísica auto-explicativa, que prescindia de qualquer conhecimento concreto da língua.
Hoje, contudo, ouvi com "ouvidos de ouvir" e li com "olhos de ler" (privilégios dos dois dígitos) - curiosamente pela primeira vez - esta canção. E, portanto, ainda que com uma atraso de alguns anos (e recordo que sempre mais vale tarde que nunca), daqui seguem os meus cumprimentos à minha primeira professora de Ballet. Sem si, o sucesso da nossa obra não teria sido o mesmo!