OK, é cliché. Mas hoje tive a verificação de que cada pessoa é, de facto, uma realidade irrepetível (seja a perspectiva endógena ou exógena). Vendo bem, e dependendo da classificação, temos aquelas de quem gostamos, aquelas de quem não gostamos e as que nos são, absolutamente, indiferentes - e dentro de cada tipo, temos de considerar diferentes gradações; por outra banda, há as que respeitamos (outra vez, mais ou menos, consoante o caso) e as que não nos merecem qualquer reconhecimento; depois, há ainda as que têm ideias próximas das nossas, aquelas cujas ideias se interceptam, ocasionalmente, com as nossas e as que têm ideias que só por algum cataclisma intelectual é que poderíamos alguma vez subscrever. Enfim, as que gostamos (ou não), as que respeitamos (ou não) e aquelas com que, tendencialmente, concordamos (ou não).
Mas então, de que modo (e nunca em que medida, como inicialmente escrevi, já que isso me parece uma fatalidade) é que isto determina a feição como nos relacionamos uns com os outros? Ainda sem levar em conta, porque dava um tratado, o jeito como cada um lida, concretamente, com as inter-subjectividades.
Será possível gostar de alguém que não respeitamos, mas que tem ideias próximas das nossas? - tenho dúvidas. Será possível gostar de alguém que respeitamos, mas que não podia divergir mais de nós quanto a questões essenciais? - parece-me que sim. Será possível gostar de alguém que não respeitamos e que adopta posições contrárias a tudo aquilo em que acreditamos? - não me parece. Isto, sem considerar ainda que podemos gostar, respeitar ou concordar mais ou menos, com a mesma pessoa.
Lembrei-me de tudo isto porque fui almoçar com a D., a personificação, como ninguém que conheci até hoje, da piedade católica. Como tantas outras vezes, discutimos a crença no transcendente e a autoridade da Igreja. A certa altura, ela abre um sorriso, e diz-me isto: "Tu acreditas. Tu é que não sabes."
Na altura não disse nada, mas esta distância estou em condições de lhe responder: "Eu também gosto muito de ti".
Mas então, de que modo (e nunca em que medida, como inicialmente escrevi, já que isso me parece uma fatalidade) é que isto determina a feição como nos relacionamos uns com os outros? Ainda sem levar em conta, porque dava um tratado, o jeito como cada um lida, concretamente, com as inter-subjectividades.
Será possível gostar de alguém que não respeitamos, mas que tem ideias próximas das nossas? - tenho dúvidas. Será possível gostar de alguém que respeitamos, mas que não podia divergir mais de nós quanto a questões essenciais? - parece-me que sim. Será possível gostar de alguém que não respeitamos e que adopta posições contrárias a tudo aquilo em que acreditamos? - não me parece. Isto, sem considerar ainda que podemos gostar, respeitar ou concordar mais ou menos, com a mesma pessoa.
Lembrei-me de tudo isto porque fui almoçar com a D., a personificação, como ninguém que conheci até hoje, da piedade católica. Como tantas outras vezes, discutimos a crença no transcendente e a autoridade da Igreja. A certa altura, ela abre um sorriso, e diz-me isto: "Tu acreditas. Tu é que não sabes."
Na altura não disse nada, mas esta distância estou em condições de lhe responder: "Eu também gosto muito de ti".
