2008/02/29

O uso e a intenção

«Tu, Cleanto, em particular, com quem vivo uma intimidade sem reservas, estás consciente de que, apesar da liberdade da minha conserva e do meu amor por argumentos únicos, ninguém tem um sentido mais profundo de religião impresso na sua mente, ou presta mais profunda adoração ao Ser Divino que o que se descobre a si mesmo a raciocinar sobre o inexplicável engenho e artifício da natureza. Uma finalidade, uma intenção, um desígnio atinge por toda a parte o mais descuidado, o mais estúpido pensador e ninguém pode estar tão endurecido em sistemas absurdos para o rejeitar em todos os casos. Que a natureza nada faz em vão é uma máxima estabelecida em todas as Escolas, isto apenas pela contemplação dos trabalhos da natureza, sem qualquer finalidade religiosa e, a partir de uma firme convicção da sua verdade, um anatomista que tivesse observado um novo órgão ou canal nunca ficaria satisfeito enquanto não tivesse também descoberto o seu uso e intenção.»


David Hume - in Diálogos sobre a Religião Natural, Parte XII