2008/03/10

Gianni Vattimo - Comunista, marxista, católico, homossexual.

«Penso pouco na morte. Falo do retorno a um certo discurso religioso e da crise da metafísica. Já não há razões filosóficas para ser ateu. O cientismo é uma filosofia relativamente superada, o historicismo também. Estes dois grandes horizontes do ateísmo moderno já não contam...
Então Deus não morreu?
Quem o sabe? O Deus do teísmo, o Deus moral, garante da ordem natural do mundo, para mim morreu verdadeiramente, porque não precisamos dele. Quanto mais inventámos o pára-raios e a tecnologia, menos devemos rezar para que não nos caia um temporal em cima. Mas isto não quer dizer que o Deus cristão fosse esse Deus.
Sempre pensei que Nietzsche, no fundo, era um pensador cristão, que decretava a morte do Deus metafísico. O Deus metafísico foi sempre muito difícil de suportar mesmo para os cristãos - como se explica o pecado, a predestinação? O Deus de Jesus Cristo, para mim, ainda está vivo.

(...)

Mas o Papa acredita no direito natural.
Sim, naturalmente. Gustavo Bontadini, pensador católico italiano, dizia que a Igreja quando está em minoria, fala de liberdade e, quando está em maioria, fala de verdade. A tal ponto que eu, a brincar, queria fundar o movimento anti-clerical cristão.
Eu não quero desprezar a Igreja. Queria que a Igreja fizesse menos pressão. Frente à secularização, a Igreja sente-se mais ameaçada e pressiona mais, o que provoca o efeito contrário [ao pretendido].

(...)

Por isto, não sei até quando me professo como crente. O meu problema de cristão é que a Igreja me escandaliza, isto é, cria-me obstáculos a crer, quando diz que não devo usar preservativo, que não devo ser homossexual, que não deve haver divórcio em Itália, que a eutanásia não se pode sequer discutir na lei civil.
Tudo isto é escandaloso, afasta-me. O que querem? Que fiquem três ou quatro gatos, mesmo que sejam robustíssimos, como um exército preparado? Se querem isto, eu sou pacifista, não quero fazer parte deste exército.»


Público, entrevista conduzida por António Marujo.