2008/03/27

No jardim das bem aventuranças

«Benditos pássaros, sem festa fixa! Com a livre monotonia do natural, do verdadeiro, os sinos nada lhes dizem a não ser uma vaga felicidade. Contentes, sem fatais obrigações, sem esses olimpos nem esses avernos que extasiam ou amedrontam os pobres homens escravizados, sem mais moral do que a sua, são meus irmãos, meus doces irmãos.
Viajam sem dinheiro e sem bagagem, mudam de casa quando lhes apetece, suspeitam um regato, pressentem uma folhagem, e têm só de abrir as asas para conseguir a felicidade, ignoram as segundas-feiras e os sábados, banham-se em qualquer parte a cada momento, amam o amor sem nome, a amada universal.
E quando os homens, os pobres homens!, vão à missa aos domingos, eles, num alegre exemplo, vêm, de súbito, com a sua algaraviada fresca e jovial, para o jardim das casas fechadas, em que um poeta, que já conhecem bem, e um burrico terno, os contemplam, fraternais.»


Juan Ramón Jiménez - in Platero e eu, Os Pardais