2008/05/13

Eventos e Sacramentos

«Os sacramentos têm um valor específico que constitui um mistério, uma vez que implicam uma certa espécie de contacto com Deus, contacto misterioso, mas real. Ao mesmo tempo, têm um valor puramente humano enquanto símbolos e cerimónias. Sob esta segunda perspectiva, não diferem essencialmente dos cânticos, gestos e palavras de ordem de certos partidos políticos; pelo menos não diferem essencialmente por eles mesmos; claro que se distinguem infinitamente pela doutrina a que se ligam. Creio que a maior parte dos fiéis tem contacto com os sacramentos apenas enquanto símbolos e cerimónias, incluindo alguns que estão persuadidos do contrário. Por muito estúpida que seja a teoria de Durkeim quando mistura o religioso com o social, ela encerra, não obstante, uma verdade; a saber, a de que o sentimento social parece confundir-se com o sentimento religioso. Assemelha-se como um diamante falso se assemelha a um diamante verdadeiro, a ponto de fazer cair efectivamente em equívoco aqueles que não possuem o discernimento sobrenatural. De resto, a participação social e humana nos sacramentos enquanto cerimónias e símbolos é uma coisa excelente e salutar, a título de etapa, para todos aqueles cujo caminho está traçado sobre essa via. Não se trata aí, no entanto, de uma participação nos sacramentos enquanto tais. Creio que apenas aqueles que se encontram acima de um certo nível de espiritualidade podem tomar parte dos sacramentos enquanto tais. Aqueles que estão abaixo desse nível, façam o que fizerem, e enquanto não o atingirem, não pertencem propriamente à Igreja.»


Simone Weil - in Espera de Deus, Carta ao Padre Perrion, a 19 de Janeiro de 1942.