2008/05/23

"Quem fez estes olhos senão eu"?

O amor acolheu-me; mas a minha alma recuou
Culpada de pó e de pecado.
Porém, o Amor clarividente, vendo-me hesitar
Desde o primeiro instante,
Aproximou-se de mim, perguntando-me docemente
Se qualquer coisa me faltava.

"Um convidado", respondi, "digno de estar aqui".
O Amor disse: "sê-lo-ás tu".
"Eu, o malvado, o ingrato? Ah! Amado meu,
Que não posso olhar-te".
O Amor tomou a minha mão e respondeu sorrindo:
"Quem fez estes olhos senão eu"?

"É verdade, Senhor; mas sujei-os; minha vergonha deve
Alcançar o que merece".
"E não sabes", disse o Amor, "quem sobre si tomou a culpa"?
"Meu amado, então para algo servirei".
"Senta-te", disse o Amor, "e prova as minhas iguarias".
Assim me sentei e comi.


George Herbert - Love, apud Espera de Deus (nota do tradutor, edição Assírio & Alvim)