2008/06/20

What happened?

«"After years of disclosures by government investigations, media accounts and reports from human rights organizations, there is no longer any doubt as to whether the current administration has committed war crimes," (...) "The only question that remains to be answered is whether those who ordered the use of torture will be held to account."», quem o diz é o Major General Antonio Taguba, que liderou a investigação a Abu Ghraib.
Estas declarações surgem quase em simultâneo com a decisão, da semana passada, do Supremo Tribunal norte americano, de reconhecer (finalmente), aos "combatentes inimigos" detidos em Guantánamo, o direito de recorrer aos Tribunais Federais.
Com esta vaga de acontecimentos relevantíssimos que poderiam potenciar o compromisso com decisões que se impõem naturalmente, mas não deixam, no actual contexto, de ser corajosas, pus-me a pensar que nunca foi tão pertinente perceber como é que se posicionam os candidatos à Casa Branca nesta matéria, sendo certo que - parece -, quer Obama quer McCain, já se pronunciaram pelo encerramento de Guantánamo.

E agora, uma pausa. Alto!

Vamos lá a ver. O tema é política, não é? E, contextualizando, política em tempo de campanha, estou a ver bem? Então, talvez não seja totalmente desprovido de sentido tentar perceber o que é que, para cada um dos candidatos, isto de "encerrar Guantánamo" implica exactamente.
Há dias, o convidado do John Stewart, no Daily Show, foi Scott McClellan (não estão a ver quem é? Dou-vos uma pista). Enfim, não é exactamente o Barney, mas também escreve "From inside the halls of power". McClellan foi o responsável pela comunicação (press secretary) da administração Bush, durante três longos anos. Mais recentemente, escreveu What Happened (e não S--- Happened), evocando a sua própria experiência governativa para acusar o seu ex-Presidente - e, ainda que não queiramos, o ainda Presidente de todos nós - de orientar as suas decisões de acordo, não com critérios objectivos de oportunidade e razoabilidade, mas com "necessidades de campanha". "For someone whose chief job was spinning the press, McClellan seems surprisingly troubled by the way that politics dominates everyday governance", é o comentário de Gilbert Cruz, na Time. Enfim, deve ter faltado no dia em fizeram os testes psicotécnicos. Curiosamente (diria antes ingenuamente, não estivesse eu a falar de alguém dedicado aos spins), McClellan assegura que qualquer dos dois candidatos à Casa Branca parece disposto a abandonar este estilo de política feita à base de uma enorme dose de propaganda. Será?
Então, vamos lá ver: o que é que os candidatos à Casa Branca - ambos avessos à manutenção de Guantánamo, vimos - têm a dizer acerca da decisão do Supremo Tribunal? Isto. Pois bem. Então pergunto eu: o que é que o Senador McCain está a engendrar para substituir Guantánamo? É que, com certeza, as razões pelas quais ele defende o encerramento da base americana em Cuba não são as mesmas que as minhas. A mim parece-me que é a mesma cultura de negação de direitos fundamentais (que depois da II Guerra e durante meio século nos habituámos a ver como uma aquisição civilizacional), que permite a tortura e a arbitrariedade. McCain quer deixar claro que é um upgrade de Bush. Talvez seja (custa acreditar que alguém, quando confrontado com Bush, são seja um upgrade), mas talvez também seja de apurar os méritos de uma qualquer agência de comunicação.