Necessidade Vs Finalidade = Fatalidade

«Porque são as coisas assim? O infeliz pergunta-o ingenuamente aos homens, às coisas, a Deus, mesmo se ele não acredita, a não importa o quê. Porque é que, precisamente, é necessário que não tenha que comer, ou que esteja esgotado de cansaço e de maus tratos, ou que tenha de ser fuzilado em breve, ou que esteja doente, ou que esteja preso? Se se lhe explica as causas da situação em que se encontra, o que aliás raramente é possível por causa da complicação dos mecanismos que intervêm, tal não será para ele uma resposta. Porque a sua pergunta, porquê, não significa: por que causa, mas: para que fim? E claro que não lhe podemos indicar fins. A menos que os fabriquemos ficticiamente, mas essa fabricação não é uma coisa boa. (...)
O porquê do infeliz não comporta qualquer resposta, porque nós vivemos na necessidade e não na finalidade. Se houvesse finalidade neste mundo, o lugar do bem não seria o outro mundo. De cada vez que pedimos finalidade ao mundo, ele recusa-a. Mas para saber que ele a recusa, é necessário pedi-la. »


Simone Weil - in Espera de Deus, Escritos, O Amor de Deus e a infelicidade