2008/07/25

O amor estóico ao universo

«Entre Deus e estas buscas parciais, inconsistentes, por vezes criminosas, da beleza, a única mediação é a beleza do mundo. O cristianismo não se incarnará enquanto não chamar a si o pensamento estóico, a piedade filial pela cidade do mundo, por esta pátria que é o universo. No dia em que, por efeito de um mal entendido, hoje bem difícil de compreender, o cristianismo se separou do estoicismo, condenou-se a uma existência abstracta e à parte.
Mesmo as realizações mais elevadas da busca da beleza, na arte ou na ciência, por exemplo, não são realmente belas. A única beleza real, a única beleza que é presença real de Deus, é a beleza do universo. Nada de mais pequeno que o universo é belo.
O universo é belo como seria bela uma obra de arte perfeita, caso pudesse existir uma que merecesse tal nome. Ele também não contém nada que possa constituir um fim ou um bem. Ele não contém nenhuma finalidade fora da beleza universal em si mesma. Esta é a verdade essencial a conhecer no que respeita a este universo, que ele é absolutamente destituído de finalidade. Nenhum nexo de finalidade se lhe aplica, a não ser por falsificação ou por erro.»


Simone Weil - in Espera de Deus, Escritos, Formas do Amor implícito a Deus, Amor à Ordem do Mundo