2008/10/02

E Gaza, afinal, aqui tão perto.

Eu, que tinha planos embrulhados em pic-nic, degluti à pressa um pastelinho de soja - que, graças a deus!, a D. Manuela hoje se lembrou de trazer - olhei a dita da indigestão nos olhos, e rumei aos Juízos Criminais.
Porque me tinha comprometido a substituir uma amiga que anda perdida por Luanda numa leitura de sentença marcada para as 14h, à falta de melhores desenvolvimentos no dom da ubiquidade da F., às 14h, lá estava eu. Eu... e muito mais gente, que a oficial de justiça ia, sucessiva e contabilisticamente, chamando e dizendo: - Pode entrar! Foi tanta a gente que pode entrar que, a meio da chamada, já não havia sítio para tanto advogado. Assim, além dos quatro que ocupavam as alas da mesa, na audiência, eramos, pelo menos, mais três. Surreal. Rapidamente me apercebi que foram agendados, para a mesma hora, qualquer coisa como cinco julgamentos.
Mas o desatino não acaba aqui. Ter de assistir a cinco diligências antes de se ter intervenção num processo é mau, mas a coisa fica pior se a primeira começa... com 45 minutos de atraso! Eram um quarto para as três da tarde, já todos nós conhecíamos cada poro na cara uns dos outros, quando tive a feliz notícia que se começaria pela minha leitura. Felizmente, o arguido estava preso preventivamente e vinha de Caxias (parece que os arguidos presos gozam de prioridade - como as grávidas, deficientes, idosos e acompanhantes de crianças de colo, em melhores circunstâncias).
Mas, depois de 45 minutos disto e 5 de leitura de sentença, vinha eu perdida a pensar que raio de bandalheira é esta, quando já não há respeito nenhum pelo tempo e trabalho dos outros, e esbarro na embaixada de Israel! Literalmente. Esbarro na embaixada de Israel. Não que tenha, inadvertidamente, colidido com algum dos militares que, todo o santo dia e toda a santa noite, guardam, religiosamente e de metralhadora em riste, a embaixada, em pleno centro de Lisboa. Não, de facto, não houve luta corpo a corpo, mas, enquanto me distraía nestes pensamentos, dei por mim a treinar para os 100 m barreiras. É bem feito para me deixar de picuinhices, suponho. Afinal, melhor andava eu (pun intended), se me deixasse de coisas e caminhasse, airosa e segura, pela calçada militarmente guardada. É que, agora já fora de reinação, quem por lá passa, encalha no trambolho que corta a estrada (e o trânsito), na rua António Enes.
E, se neste momento algum de vós estiver a considerar a hipótese de se dar ao trabalho de redigir todo um mail para me falar dos rigores da segurança, permitam-me que vos recorde que não vejo este aparato em mais nenhuma embaixada (nem na dos EUA) e que, se a embaixada de Israel tem necessidades especiais de segurança, então, alguma coisa me diz que, provavelmente, não devia estar localizada numa das zonas mais movimentadas da capital (perto do Saldanha) e, para mais, num prédio habitacional.
Tanto quanto me interessa, as Avenidas Novas estão sob ocupação israelita. E a ironia é que, a pessoa mais Israel-friendly do mundo, passa por lá e, imediatamente, quase num acto de constrição, o pensamento foge-lhe para os palestinianos na Cisjordânia.