2008/11/07

A sujeição das mulheres

«Estávamos longe de conseguir uma unanimidade de pontos de vista absoluta entre os grupos que constituíamos: nenhum de nós adoptava totalmente todas as ideias de meu pai. Um exemplo; considerávamos o seu Ensaio acerca do Governo como uma obra capital de filosofia política; mas não lhe davamos a nossa adesão quando ele sustenta que um governo em que as mulheres são excluídas do sufrágio não é necessariamente mau, pois os seus interesses são os mesmos que os dos homens. Eu e os meus camaradas mais chegados estavamos em desacordo com esta doutrina.
Devo dizer, em abono de meu pai, que ele não defendia, de maneira nenhuma, o princípio da exclusão das mulheres, assim como o da exclusão dos homens com menos de quarenta anos de idade (...). Não pensava em discutir, costumava dizer, o problema de saber se valia mais restringir o sufrágio; mas, admitindo que ele devesse ser restringido, devia procurar-se qual o extremo limite da restrição que não prejudicasse necessariamente as condições de estabilidade de um bom governo. Mas eu pensava então, como sempre pensei depois, que a opinião de meu pai era tão errónea como aquelas que ele combatia no seu Ensaio; que o interesse das mulheres se confunde com o dos homens exactamente da mesma maneira que o interesse dos súbditos se confunde com o dos reis, e que as mesmas razões com as quais se defendem os interesses daqueles se aplicam ao caso das mulheres. Era esta a opinião dos nossos mais novos partidários, e sinto-me feliz em poder dizer que neste ponto capital Bentham estava inteiramente connosco.
Embora nenhum de nós concordasse inteiramente com as opiniões de meu pai, eram estas o núcleo que dava côr o carácter àquilo a que depois se chamou Radicalismo Filosófico, cujos protagonistas foram os rapazes deste pequeno grupo. »


John Stuart Mill - in Memórias