2008/11/04

You've got mail.

Durante demasiado tempo, sempre que me queriam importunar com uma tarefa menor, bichanavam-me, melosamente, "Faça uma cartinha..." e às minhas objecções de que deteminada pretensão não teria qualquer viabilidade, respondiam-me, invariavelmente, "Então, faça um requerimentozinho..." e, portanto, fui inadvertidamente criando resistências a qualquer apelo formulado com recurso a diminutivos.
Ultimamente, apercebo-me que há uma tendência nacional para a "reuniãozinha" - o que, no que a mim me toca, ultrapassa todos os limites empáticos de compromisso. São enervantemente comuns as ocasiões em que alguém se oferece para nos fazer chegar qualquer informação por e-mail, telefone ou, dizem eles, em alternativa "podemos fazer uma reuniãozinha". Inicialmente, sem saber exactamente como reagir, e não querendo ferir a sensibilidade de ninguém, evitei apontar o óbvio, i.e., que se a informação é de natureza que me possa ser enviada por mail, qualquer reunião(zinha) é pura perda de tempo e, por isso, vasculhei, de entre todas as razões que me assomavam o espírito, aquela que mais me desculpabilizasse. A certa altura, lembrei-me desta: "Peço imensa desculpa, mas sofro de uma espécie de fobia social que me limita no contacto com os outros. Sou um bocadinho esquizóide, sabe... com certeza saberá respeitar esta minha incapacidade, afinal, há que valorizar o trabalho dos cidadãos com deficiência...". No fim, cheguei à conclusão que esta abordagem era um bocadinho dramática, pouco consentânea com o que se poderia legitimamente esperar de alguém com as minhas atribuições profissionais. Então, eis que terei entrado na idade adulta da inteligência emocional: deixei de sentir qualquer necessidade de me justificar e, melhor, aprendi a usar isso em minha vantagem. Passa tudo por desconsiderar aquilo que não nos interessa e dar ênfase àquilo que o outro, sem querer, sugere, vinculando-o.