2009/03/19

8 (muito) maus anos

"Há dias ouvi uma interpretação da 5.ª Sinfonia de Sibelius. Ao aproximarem-se os compassos finais, experimentei exactamente a longa e arrebatadora emoção que a composição pretende suscitar. Como seria, interroguei-me, ser finlandês na assistência quando da primeira execução da sinfonia em Helsínquia, há quase um século, e sentir aquele arrebatamento avassalar-me? Resposta: sentir-me-ia orgulhoso, orgulhoso por um de nós, ser capaz de juntar tais sons, orgulhoso pelo facto de nós, os seres humanos, sermos capazes de fazer tais coisas a partir do nada. Compare-se isso com o sentimento de vergonha por nós, a nossa gente, termos feito Guantanamo. A criação musical de um lado, uma máquina de infligir dor e humilhação do outro: o melhor e o pior de que os seres humanos são capazes."


J.M. Coetzee - in Diário de um mau ano, Sobre a vergonha nacional.