2007/12/07

«A burguesia, activa, enriquecida, ilustrada, sente-se forte, engrandecida, e afirma-se como classe social consciente da sua importância, do papel que representa; e comparando-se com as outras classes, vê fàcilmente que ela é que, pela sua actividade empreendedora, encaminha o mundo, é como a sua razão de ser.
Êsse Terceiro Estado, à frente do qual ela se encontra, que ela dirige e domina, está já dividido em duas classes bem distintas, que dois nomes bastam para classificar: a dos patrões e a dos operários, ou dos ricos e dos pobres. Mas tudo isso é ainda considerado como povo, em face do clero e da nobreza, que continuam sendo, pela existência que disfrutam, os beneficiários de privilégios políticos que não querem largar.
Produz-se por fim o desequilíbrio entre a vida económica da nação e a sua vida política, correspondendo esta a uma estrutura económica já passada, que os seus privilegiados teimosamente procuram manter. É em França (o país mais apto para o efeito, pelo estado de fôrça e consciência da classe burguesa) que se dá a quebra, o rompimento formidável na sua tregédia e nas suas conseqüências, que se chama a Revolução Francesa.»


Emílio Costa - in Ascensão, Poderio e Decadência da Burguesia, 1939