2007/12/28

A medida do sofrimento

«A natureza humana - prossegui - tem os seus limites, pode suportar, até um certo grau, a alegria, a dor e a tristeza; quando, porém, se ultrapasse esse grau, a natureza sucumbe. Pouco importa saber se um homem é fraco ou forte, mas apenas se é capaz de suportar a medida dos seus sofrimentos, físicos ou mortais, é indiferente; e, na minha opinião, é tão desassizado qualificar de cobarde o homem que se suicida como chamá-lo ao que morre de uma febre maligna.
- Estranho paradoxo, esse! - exclamou Alberto.
- Não tanto como te parece - retorqui. - Concordas certamente em que se chame doença mortal àquela que ataca o corpo com tão grande violência que nas forças vitais, esgotadas ou enfraquecidas, não pode operar-se nenhuma feliz revolução que restabeleça o equilíbrio de que depende o curso regular da vida. Pois bem, meu amigo, apliquemos a mesma observação ao espírito. Vê esse homem na sua humilde pequenez; notemos como nele actuam certas impressões, como certas ideias se lhe fixam no espírito, até que, por fim, uma paixão sempre crescente aniquila todas as suas forças e acaba por prostrá-lo. É debalde que as pessoas sensatas e de sangue frio, vendo a situação do infeliz, tentam aconselhá-lo e incutir-lhe coragem; ser-lhe-ão tão úteis quanto o seria um homem de boa saúde a um enfermo a quem quisesse insuflar uma pequenina parcela das próprias forças.»


Goethe - in Werther