2007/12/17

Planícies troianas

Neoptólemo: Alegra-me que faças o elogio de meu pai e o meu. Escuta, contudo, o que desejo conseguir de ti. Os homens vêem-se forçados a suportar as desgraças que os deuses lhes dão. Mas quantos, como tu, persitem nos sofrimentos voluntariamente, não merecem que se sinta por eles indulgência, nem que alguém os lastime. Ora tu tornaste-te um selvagem e não aceitas conselhos. E se alguém, com boas intenções, o faz, tu ganhas-lhe ódio e nele vês um adversário e um inimigo. Mesmo assim, falarei, e tomo a Zeus por testemunha. Tu escuta e grava as minhas palavras no teu peito.
O mal que te apoquenta vem-te da vontade dos deuses, por te teres aproximado da sentinela de Crise, a serpente que, escondida, vigia e defende o seu recinto descoberto. Fica a saber que, enquanto este mesmo Sol continuar a levantar-se de um lado e as pôr-se no outro, jamais obterás o fim desta tua cruel enfermidade, sem que primeiro, de tua livre vontade, partas para as planícies troianas, onde, junto de nós, encontrarás um dos dois Asclepíades que te curará desse mal, e onde te tornarás famoso, ao destruires a cidadela com o teu arco e a minha ajuda.
(...) É um belo prémio, ser considerado em dos Gregos mais valentes, e encontrar as mãos que te curem, para em seguida alcançar a mais subida das glórias, ao tomar Tróia, fonte de tantas dores.


Sófocles - in Filoctetes