2007/12/20

Prestamista

«Em duas palavras, pus-me então a explicar-lhe de fio a pavio, impiedosamente (insisto em chamar a atenção para o impiedoso), que a magnanimidade na juventude é uma coisa admirável - mas não vale um chavo. E porquê? Porque se adquire muito facilmente, porque não provém do facto de se ter vivido, porque se trata de primeiras impressões do ser. "E aqui está: o que falta agora é meter mãos à obra". Esta magnanimidade não custa nada, nada custa dar por ela a própria vida, pois, no fundo, trata-se apenas de sangue na guelra, de um excesso de forças, e nessa idade tudo é sede de beleza! Não, a verdadeira coragem não é isso. Dá-te ao cuidado de escolher uma empresa difícil, que não faça eco, sem brilho, ameaçada pela calúnia, que exija um grande sacrifício, e nem uma migalha de glória, em que tu, homem brilhante, faças figura de poltrão perante toda a gente, quando a verdade é que és o homem mais leal deste mundo, experimenta empreender um feito destes, para ver se não renuncias logo a ele!»

Dostoievski - in Está Morta!, Ele próprio, o mais nobre dos homens, não acredita em nada.