2008/02/07

Criação

Presumo que se diga da comédia que é das artes mais ingratas, porque é no letargo da melancolia que, na maioria dos casos, encontramos nutrimento. Então, das três uma: ou o criador é conhecedor de sumíssimos e inconfessáveis segredos metafísicos, que lhe concedam a capacidade sobre-humana de superar a paralesia; ou é um caso atípico de génio efervescente; ou é um sofredor. Como sou o que alguém chamou de "realista informado", tendo a balançar no sentido desta última hipótese.
Tenho de considerar que talvez seja por isso que não gosto de palhaços; e que haja mesmo quem os associe a um imaginário de terror - simplesmente, porque nos parecem tão tristes. Tão mais evidente é a tristeza, quanto mais vincada a maquilhagem. A empatia e o medo, lado a lado, a medir forças. E, cândidas, são as crianças as únicas que não se deixam repelir (elas, e os pobres de espírito - bem-aventurados, deles é o Reino dos Céus!). A ignorância aliada à inocência, siamesas, até que a morte chegue onde já não há lugar para o esquecimento.