2008/04/16

Coleccionador de estórias

O Manuel comprou-o em Paris, em Março de 1961. Eu resgatei-o de uma alfarrabista em Campo de Ourique, em Dezembro de 2007. Ambos, nele registámos - ele, imagino que no papel ainda branco; eu, na mesma folha amarelecida - nome e data.
Se superarmos a circunstância de lhe conhecer os apelidos e a letra desenhada, não há nada que conheça do Manuel que, por esta altura, não saiba já também. Bom... isso, e que, em Março de 1961, o Manuel leu, em Paris, um livrinho chamando Les Régimes Politiques, de Maurice Duverger.
Desconheço, em absoluto, que razões levaram o Manuel a ler, em Paris (antes de eu nascer, antes de acabar a ditadura em Portugal, antes do Maio de 68), este livro que recolhi, em Dezembro de 2007. Não sei que idade teria na altura; se viajava, se estudava ou se exilava; se o leu em voz alta para alguém; porque lhe anotou a data e o local onde o leu. Nada.
O Manuel é a matéria prima dos meus próximos dias. Entre um parágrafo e outro, passando pela citação da Antígona sem me desconcentrar, vou conhecendo tantos Manuéis quantos a minha imaginação me permita. Todos leram sobre regimes políticos, em Paris, nos idos de 1961 e me conheceram em Lisboa, em Dezembro de 2007. Todos, embora uns mais pacientemente que outros, me ajudaram a aperfeiçoar o meu francês pouco mais que sofrível (se tanto) e assim descobriram porque razão os acolhi e dei guarida. A razão da glosa no papel amarelecido fica como os apelidos do(s) Manuel(éis). Entre nous.